Do sofá observo em silêncio Olivia montando seu quebra-cabeça. As peças amontoadas no chão esperam pelos encaixes perfeitos. Elas são muitas. Confesso que me seguro pra não dar uma ajudinha, na ansiedade de ver logo a bela figura de fadas e flores colorindo o chão de madeira, mas sei que ela não aceitaria. E percebo que essa pressa é só minha. Olivia escolhe cada pecinha com cuidado. Canta o tempo todo, sinal de felicidade. Olha pro que já fez, procura o lugar ideal para a próxima tentativa, às vezes consegue de primeira, às vezes não. E não desiste nunca. Diz em voz alta "eu vou terminar esse quebra-cabeça", e eu sorrio de orgulho. Os minutos que se passam não têm a menor importância. Ela se concentra no prazer que o processo todo traz, e não no seu fim. Não é raro vê-la terminando uma figura e no segundo seguinte destruindo tudo, pra recomeçar.
Paro então pra pensar que a partir do momento em que um ser humano vem ao mundo, todo desafio que aparece na sua frente é pra ser superado. A fome, o medo, a linguagem, a locomoção, a socialização, tantos limites fundamentais para o nosso crescimento, e que na vida adulta permanecem, só que com barreiras mais elaboradas. O grande problema é a maneira que escolhemos para vencê-los. E me flagro divagando, olhando pros meus próprios erros, pras armadilhas que sofisticadamente crio em meu caminho, tão distante daquela sabedoria intrínseca do unverso infantil.
Dou então um beijo na testa da Olivia, agradecendo com o coração pela oportunidade de ser sua mãe. Ela não sabe, mas me ajudou a encontrar a última peça do meu quebra-cabeça, com sua singela lição de perseverança e desapego. E o conflito do dia chegou ao fim.
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