quarta-feira, 29 de abril de 2009

Quebra cabeça


Do sofá observo em silêncio Olivia montando seu quebra-cabeça. As peças amontoadas no chão esperam pelos encaixes perfeitos. Elas são muitas. Confesso que me seguro pra não dar uma ajudinha, na ansiedade de ver logo a bela figura de fadas e flores colorindo o chão de madeira, mas sei que ela não aceitaria. E percebo que essa pressa é só minha. Olivia escolhe cada pecinha com cuidado. Canta o tempo todo, sinal de felicidade. Olha pro que já fez, procura o lugar ideal para a próxima tentativa, às vezes consegue de primeira, às vezes não. E não desiste nunca. Diz em voz alta "eu vou terminar esse quebra-cabeça", e eu sorrio de orgulho. Os minutos que se passam não têm a menor importância. Ela se concentra no prazer que o processo todo traz, e não no seu fim. Não é raro vê-la terminando uma figura e no segundo seguinte destruindo tudo, pra recomeçar. 
Paro então pra pensar que a partir do momento em que um ser humano vem ao mundo, todo desafio que aparece na sua frente é pra ser superado. A fome, o medo, a linguagem, a locomoção, a socialização, tantos limites fundamentais para o nosso crescimento, e que na vida adulta permanecem, só que com barreiras mais elaboradas. O grande problema é a maneira que escolhemos para vencê-los. E me flagro divagando, olhando pros meus próprios erros, pras armadilhas que sofisticadamente crio em meu caminho, tão distante daquela sabedoria intrínseca do unverso infantil. 
Dou então um beijo na testa da Olivia, agradecendo com o coração pela oportunidade de ser sua mãe. Ela não sabe, mas me ajudou a encontrar a última peça do meu quebra-cabeça, com sua singela lição de perseverança e desapego. E o conflito do dia chegou ao fim.



terça-feira, 28 de abril de 2009

Maio com céu de brigadeiro


O mês das mães desponta no horizonte com muita coisa pra acontecer...muita festa, muito trabalho e muitas histórias. Que ele venha como o sol brilhante de um céu de brigadeiro, cheio de luz.
E por falar em brigadeiro, pra fechar abril com chave de ouro, temos a ilustre, honrosa e doce presença de minha mãe narrando um dos momentos mais engraçados de minha infância. Com a palavra, Vovó Rosana:

Adoro preparar quitutes para minha família...sempre foi assim. Tenho prazer em ver a satisfação que outras pessoas sentem quando saboream meus pratos. Mas eu também gosto do que preparo...não consigo cozinhar algo de que não goste. Isso não existe pra mim! Se não gosto não faço, e quando faço...como! Sou do tipo mãe lata de lixo. Sempre comi os restinhos dos pratos das crianças. A Gabi, minha filha menor, quando pequena comia pouco, me deixava apavorada e eu vivia inventando novidade para que ela não morresse de fome. Foi num desses dias que resolvi preparar brigadeiros. Afinal, toda criança gosta e não poderia ser diferente com ela.
Prontamente e com muita dedicação preparei os tais docinhos. Sentindo o maravilhoso perfume exalando da panela, Dani e Gabi correram para ver o que mamãe estava fazendo. Rapidamente eu enrolava os docinhos, nem passava no chocolate granulado, e elas saíam correndo pela casa comendo, falando, rindo, bailando entre a sala e a cozinha carregando os brigadeiros na mão. Uma festa!
Aos poucos a visita à cozinha foi diminuindo e concluí então que as pequeninas satisfeitas já se distraíam com outra atividade. Saindo da cozinha, porém, deparei-me com vários docinhos espalhados pelo corredor. "Foi a Gabi!", pensei. Inconformada com a idéia de jogar no lixo os doces que tão carinhosamente preparara, recolhi do chão todos  que encontrei e, num impulso que só as mães gordinhas conhecem, enfiei-os com verdadeira gula na minha boca. 
A sequência dessa história é trágica! A Gabi nessa época ainda usava fraldas. Fez uns cocôs do tipo "bolinhas" que caíram da fralda enquanto passeava pelo corredor. Se eu não me comportasse como lata de lixo nunca teria comido o cocô da minha filha!
Acontece...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A rampa da escola


Ladeada por fórmios vistosos e uma horta especialmente cultivada pelas mãozinhas curiosas das crianças, a rampa que dá acesso à estrutura da escola de minha filha nasce do portão de entrada e nos leva diariamente ao grande gramado, cenário das vivências dos pequenos alunos. É inevitável subí-la ou descê-la, esse curioso palco de movimentos, onde muito acontece, por onde todo mundo passa. Arrisco em dizer que ela parece ter vida, talvez até fale ou escute todas as conversas que nela se iniciam e quase nunca terminam. Como uma legítima rampa, com seus não-sei-quantos graus de inclinação, presta-se a ser uma passagem, simplesmente. Só que aparentemente.
Pras crianças é uma grande e desafiadora brincadeira, nela apostam corrida, descem pulando ou andando de ré. Engraçado é quando vão correndo e gritando pra sentir o som vibrar a cada passo forte. Dia desses fiz junto com minha filha e achei bem divertido (abafa, ninguém viu).
Pras mães é um perigo iminente, não é raro ouvir uma ou mais gritando inutilmente pros filhos terem cuidado pra não se esborracharem no chão. Mas eles caem mesmo assim, claro. De tempos em tempos a gente escuta aquele chororô - nessa hora a rampa fica aglomerada - , acode um joelho ralado, encoraja um rostinho desanimado. Mas no dia seguinte, de sorriso no rosto e curativo no corpo, quem caiu volta a se aventurar na amiga íngreme.
Se na descida todo santo ajuda, por outro lado, na hora da subida as grávidas vivem uma verdadeira tortura, e nesse caso falo com a propriedade de quem viveu isso recentemente. Acelera batimentos, arranca suspiros ofegantes, parece não ter fim. Nos dias de calor intenso não precisa estar grávida pra sentir o peso maior ao tentar escalá-la. O suor escorre e a gente quase morre de cansaço (ops, excluo os atletas deste momento).
Pras professoras, por sua vez, essa elevação deve ser a salvação. Explico: se você aumenta a distância de sua passada, a gravidade dá aquele empurrãozinho e você chega mais depressa ao destino, com poucas chances para o bate-papo. Então, pra quem está deixando o trabalho, nada melhor que sair com a pressa e a certeza de que não será parado por ninguém (leia-se "nenhuma daquelas mães malas sem alça que sempre querem falar alguma coisa sobre o filho, mesmo se está tudo correndo bem").
Num dia cinzento, chuvoso e sem aula, passei na frente da escola e parei para observar a rampa. Achei ela triste, solitária. Sem aquela bagunça toda dos dias úteis, coitadinha, ela estava lá, larga, imóvel e inútil. Engano meu. Na verdade, cumpria feliz mais uma de suas funções: ajudar a água da chuva a encontrar mais rapidamente o curso do rio.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Onde estou?

É claro que estou atrapalhada. Sem tempo de passar por aqui e postar tantas idéias que sempre vêm à cabeça. Contar sobre a experiência recente de ficar sete dias longe dos filhotes. Dividir com vocês as novidades.
É que cheguei de viagem e já enfrentei um desafio: feriadão prolongado, sem a ajuda de ninguém, com duas crianças doentinhas e mimadas depois dos excessos cometidos pelas avós na minha ausência. Ou seja, tô correndo e pirando, pra variar um pouco. Só peço que não desistam de passar por aqui. Em breve voltarei ao eixo e aos textos. Em breve mesmo. Saudades daqui.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Sete dias longe de casa


Adoro o número sete, forte e misterioso.
Longe da rotina, perto do Pacífico, tive bastante tempo pra pensar. Depois de muita energia empregada, organizei toda a bagunça de minha cabecinha que nunca pára em sete grandes grupos de reflexões. Lá vão:

1 - A saudade de mãe comprime os órgãos, em especial o coração.

2 - A hostilidade oprime tanto quanto a inveja, quer queira, quer não.

3 - Quanto mais longe estamos, mais perto queremos ficar.

4 - Raiz é raiz, sempre deixa seu rastro na terra, mesmo quando a planta muda de lugar.

5 - Criança é criança, não importa a realidade.

6 - Ninguém escapa da válvula de escape. 

7 - Momento Tostines: a crise existe porque o mundo está chegando ao fim, ou o mundo chegará ao fim por causa da crise?

Lendo o que escrevi percebo que pirei de vez. Tudo bem. Tento explicar depois. Cada item, uma postagem futura diferente.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ooopssss!

Quando a gente prioriza alguma coisa, o resto vira resto (jura? Haha!). Eu venho me preparando para uma viagem de uma semana sem a criancada e, na loucura de deixar tudo organizado pra eles nao sentirem tanto minha falta, simplesmente negligenciei a data do embarque!!! Por sorte recebi uma ligacao de meu marido no dia, horas antes (que ja estava me esperando no destino), perguntando se eu estava a caminho do aeroporto. Nao preciso dizer que rolou um panico geral, correria insana, pois nem tinha arrumado as malas! As criancas eram minha maior preocupacao e nessas eu me perdi pra valer! A vida e assim...mas a sabedoria manda improvisar! So resta saber o que vai faltar na minha bagagem, ou o que trouxe inutilmente, pois eu estava fora do ar enquanto jogava as roupas dentro da mala!
Cheguei agora ha pouco e, ate organizar o fuso e a cabeca confusa, darei uma sumida! Mas, quando voltar, muitos relatos fresquinhos! Preciso aproveitar esses dias de segunda lua-de-mel!!! Ate breve.
Obs.: nao tive condicoes de desvendar os segredos deste teclado gringo, entao conformem-se com o texto mal acentuado!

domingo, 5 de abril de 2009

Quando fui ecologicamente incorreta


Os meus finais de semana são sempre uma surpresa. Dispenso a ajuda que tenho nos dias úteis e me dedico exclusivamente à criançada. Na maioria das vezes não é tarefa tão complicada, pois conto com a ajuda do maridão (gente, "ajuda do marido" é um tema polêmico, depois dedico uma postagem somente pra isso), principalmente nos momentos de "pico", carinhosamente batizados de "horas do espanto". Só que ultimamente tem sido frequente a ausência do Otavio, por motivos profissionais, e eu venho me desafiando a não ligar pra nenhum parente pra me socorrer. Então, com os mesmos dois braços e duas pernas que qualquer outro ser humano possui (já desejei muito ser um polvo nessas horas), fico sozinha com duas crianças pequenas. Um garotinho cheio de energia e manha, que não quer desgrudar de mim nenhum segundo, no auge de sua curiosidade acerca de qualquer buraco, som e luz que apareçam na sua frente; e uma garotinha meiga e compreensiva, que ajuda na medida do possível, mas é criança, sente ciúmes e também quer momentos de exclusividade com a mamãe. E é nessa configuração que a gente tem que inventar maneiras de driblar os contratempos. 
Sábado tinha almoço na casa de uma amiga, domingo na casa de parentes, ou seja, eventos que pediam figurinos mais ajeitados (nada de moleton, chinelo e camisetão, básicos do dia-a-dia de uma mãe sozinha) e, obviamente, um banho antes. Hum. Como? Em primeiro lugar, todos juntos no banheiro, que teve sua porta trancada e o chão forrado de brinquedos. Eu virei uma vitrola (ops...iPod!), cantando animadamente os "Top 10" do repertório infantil. Mas não demorou muito pro Leonardo perceber que a voz vinha de dentro do box, o que desencadeou um surto de desespero. Colocando-me no lugar dele, vendo minha mãe atrás de um vidro embaçado, talvez eu pensasse que um extraterrestre estaria tentando abduzí-la. Pensei, pensei, pensei e resolvi (num momento genial à la Pinky Dinky Doo) pedir pra Olivia entregar a ponta do papel higiênico pro irmão brincar. Sucesso total. Nas duas vezes em que precisei tomar banho nessas condições, a estratégia funcionou perfeitamente. O chão ficando branco, o Leo compenetrado e enrolado, a Lili dando gargalhada. O problema que eu estava criando com isso, abrindo o precedente para ele brincar com rolos por aí, seria solucionado depois, o importante era eu ficar cheirosa.
Só que mais tarde bateu aquela culpa, pois dei conta de meu ato completamente anti-cidadão, desperdiçando dois rolos inteiros num único final de semana!!! Poderia ter tentado outras soluções, como colocar a criançada comigo no banho, numa festinha molhada, ou mesmo deixar de enxaguar os cabelos (eles poderiam ficar presos, quem notaria o xampu grudento?). Não, fui pra solução mais prática, custasse o que custasse. Lamentável. Mas quem nunca fez uma dessas, que atire uma barra de sabonete em mim!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A dona da papelaria


Passo pela porta e uma melodia anuncia minha chegada. Um dispositivo de segurança que, ao contrário de muitos outros,  atua como um mensageiro de boas vindas, fazendo os "ois" ecoarem. Nas prateleiras, as cores das canetas, lápis e papéis me atraem. Não sei onde fixar o olhar. Crepon, cartão, celofane. Giz, hidrográficas, massinhas. Cadernetinhas, cadernos, fichários. Adesivos, colas, clips. Cacarecos e mais cacarecos que me remetem deliciosamente à infância. Perco a noção do tempo. Atrás do balcão, a dona da papelaria com sua receptividade doce e genuína, exibe sua linda barriga de quase cinco meses, com os olhos cheios de brilho. Eu então me esqueço de olhar ao redor, concentrada no seu relato emocionado sobre a gravidez, e com ela inicio um agradável intercâmbio de experiências. Exames, descobertas, preparativos. Praticamente revivo o que experimentei em minhas duas gestações, e a saudade toma conta do meu coração. Porque hoje já não tenho mais bebês em casa, e essa mudança parece acontecer além da nossa percepção. E porque ser mãe renova o espírito, faz a gente desfrutar da plenitude na coragem, no amor e nas entregas. 
Os minutos voam...dou um longo abraço naquela barriguda iluminada, com minha sacolinha de ótimas tranqueirinhas na mão, e saio com a alma preenchida de paz. Olhar nos olhos, sentir e doar-se, não importa onde nem com quem, é algo que experimento com muito mais frequência depois de virar mãe. Amém.  

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Novo layout

Eu sou assim. Preciso mudar com frequência. O cabelo, os objetos da casa, as pequenas coisas. Então, segue mais uma mudança de layout do (((berreiro))), por hora a que mais me agrada. Bem no dia da mentira? Entrem amanhã pra saber se tudo isso foi "lorota" ou não.

Pequeno Cidadão


Li nessa semana que o Arnaldo Antunes se juntou a outros três parceiros (Edgar Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto, este último uma fera de trilhas pra cinema) pra fazer um projeto infantil, batizado de Pequeno Cidadão. Mais que na hora, pois ele vinha nos últimos anos contribuindo com suas composições pra crianças em álbuns de outros artistas, como Palavra Cantada e Adriana Partimpim. Sou grande fã da poesia dele, e a comunicação que ela estabelece com as crianças é incrível. Já dei uma espiada no myspace (www.myspace.com/pequenocidadao), gostei bastante. Nada de subestimar a inteligência de nossos pequenos. Eles já têm umas datas em maio no teatro da Anhembi Morumbi, acho que vale a pena ir. E esperar pra comprar o disco nas lojas. Nada de piratear, hein!