quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Educar na paranóia


Eu me servia no buffet de saladas do restaurante e foi inevitável ouvir o sermão da mãe sentada à mesa ao lado. De relance, vi a cara do menino, desanimado com o prato de comida intocado. "Você tem que comer, filho, porque senão o moço que está te vendo pela câmera não vai trazer a sobremesa".

Pensei nos meus filhos, que provavelmente terão que dividir espaço com um bando de paranóicos crônicos no futuro, e perdi a fome...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Nós duas


Diante do espelho
eu me calo.
Fito os traços, as cicatrizes
e subitamente me duplico.

Examino esta adolescente
na ingenuidade de seus desejos,
e a outra, mulher atenta,
na eterna guerra do convívio.

Diante do espelho,
uma tela de Frida Kahlo.
Nós duas, de mãos entrelaçadas,
na explosão das cores,
parceiras no desassossego...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Lembrei de mais uma!

Na sala de aula, com a rodinha formada, a professora pergunta para os piolhinhos quem já tinha feito algo "proibido". Já conscientes de que nem tudo a gente deve falar por aí, mesmo que indagados para tal, permaneceram naquele silêncio duvidoso. A exceção veio do André, que não hesitou em levantar sua mãozinha e assumir seus deslizes:

"Legal, André. Conta pra gente o que você fez!"

"Meu pai não pode saber, senão ele fica bravo."

"Tudo bem, a gente guarda segredo."

"Eu espionei meu pai e minha mãe atrás da porta...", frase dita com um quê de mistério, tema que ele adora.

Não preciso descrever o pânico interno da professora, né? Mas com o assunto iniciado, não havia escapatória. Respirou fundo, levando em conta o risco que corria e continuou:

"E o que você viu, André?"

Pausa. Olhinhos arregalados.

"Eles estavam vendo o Jornal Nacional!!!!"



Ai, André. Não foi possível guardar segredo. Essa história é muito fofa...

Comentário que virou post...

Um pouco no assunto, expliquei à Sofia, naquele típico blábláblá materno, a importância das vitaminas nas verduras e legumes para os cabelos, "senão, eles caem", disse eu. Ela, rapidamente indagou: "mas eles levantam?"

Demais! D-E-M-A-I-S! Quem tiver mais sacadas dos piolhinhos, pode mandar!!!! Essa veio da Pat Cooke. Thanks!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Piolhinhos

Na agenda desta esquisita semana, cortada ao meio por um feriado nacional, todos os pais da escolinha receberam o alerta para um caso constatado de piolho na turma da tarde. Indagado por sua mãe, que ficou curiosa em saber qual amiguinho estava com a cabeça cheia daquelas pragas, Artur não hesitou:

- Foi a Dani do Léo, mamãe.

Sim, a "Dani do Leo" sou eu. Não, não estou com piolho!
É que esses piolhinhos dizem cada coisa...

domingo, 21 de março de 2010

Um simples sábado


Lá se vai mais uma garrafa de vinho. Nossos sorrisos pigmentados e largos, brindam a noite de sábado de um jeito simples e feliz. As crianças brincando de pega pega explodem em gargalhadas. O papai ensaiando notas minimalistas e certeiras no piano faz a paz transbordar. E eu, esparramada no sofá, contemplando e agradecendo, deixo os segundos exercerem seu papel com muita calma.
Olho pro vaso de vidro, recheado de rolhas. Lá dentro amontoam-se lembranças boas. O dia do casamento, os exames de gravidez positivos, as conquistas profissionais, as datas importantes, os amigos em casa. Os amigos...quantos já passaram por aqui! Alguns desde sempre e pra sempre. Marcaram a alma de um jeito que, não importam os caminhos, irão comigo aonde eu for. Outros vieram, mas já saíram. Preencheram momentos, marcaram presença, mas compuseram uma fase, somente. Os que acabaram de chegar, que começam a escrever comigo mais um livro (com tantas páginas ainda em branco), renovam e impulsionam. E então me dou conta de como é perfeito o conceito da amizade.
Quero ser amiga de meus filhos. Quero que eles tenham amigos fiéis. Quero sempre cultivar a amizade com meu marido. Quero amigos pra vida toda. Na família, na escola, na padaria, no restaurante. Quero que a vida me mostre sempre as oportunidades de uma nova amizade. Porque a gente não consegue melhorar sozinho. Dou meu último gole no vinho. Um brinde aos amigos!



quinta-feira, 18 de março de 2010

Prioridades


Talvez eu soe repetitiva, mas a loucura anda realmente grande. Estou absolutamente feliz com minha nova vida sem babá, sinto as crianças muito melhores, mas o tempo que me sobra é "muito pouco". Além disso, aquele meu projeto de música infantil precisa ser concluído o quanto antes, meu coração pede assim. Portanto, infeliz e temporariamente, o blog ficará um pouco abandonadinho. Nas minhas espaçadas visitas por aqui deixarei todos a par das novidades, que por enquanto resumem-se à pré-produção do disco. Estou fechando o repertório, algumas composições mais antigas perderam a importância e deram lugar a outras fresquinhas, coisa que exige muito trabalho. E concentração também, fazendo minha cabeça pensar somente em música. Repito: por enquanto! E pra não deixar um vazio novamente, num post criado somente para me justificar, deixo abaixo um poema que resgatei recentemente da "biblioteca", quando resolvi reler um livro de Drummond com outros olhos, quase quinze anos depois. E quanta surpresa! Fui tocada por um poema sobre filhos...inimagináveis em minha vida de adolescente, quando adquiri o "Farewell", último livro dele. Olhem só:

Diante de uma criança

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual

vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidads sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Submeter-me à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E se depois de tanto mimo
que o atraia, ele sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Meu silêncio!


Gosto deste silêncio da noite
que faz a casa ficar grande
e que ecoa os meus sonhos mais distantes.

Um silêncio perfeito,
tão preciso quanto a fluidez de meu sangue,
que percorre os cômodos, as frestas, as estantes.

É um silêncio meio solitário
que me acalma,
que me liberta das armadilhas da alma
e me faz descansar,
mesmo que os olhos se abram.

Gosto da ausência do som,
da privação da fala,
da contenção de ruído.
Pois ao longo do dia já excedi os limites
da voz e do ouvido.

Gosto deste silêncio aconchegante
que me dá a certeza de que tudo corre bem.
As crianças dormem,
Amém.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sorrisos contra o desânimo

Tô sem scanner. Perdi numa tempestade aqui em casa a minha multifuncional. Tristeza. Tantos desenhos novos e lindos que a turminha fez por aqui, e não posso postar unzinho sequer. Desanimei, confesso. Mais ainda desanimador foi quando tentei correr atrás do prejuízo com a Eletropaulo, uma piada. Portanto, estou providenciando nesta semana um seguro pra casa (é, eu não tinha seguro), um pouco afundada em tarefinhas domésticas. Louca, como sempre.
A boa notícia é que meu cacto, feliz com seu poema, resolveu me brindar com mais dois brotinhos lindinhos. Sorrisos espontâneos que nos lembram que simplificar as coisas é o que vale. Por isso vim dar um "oizinho", mesmo sem uma figura pra ilustrar (muitas vezes delas eu tiro inspiração). Hoje é dia de natação, a tarde está tomada. Até mais, macacada!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ídolo de mãe


Ouvi dizer que eles estariam fazendo um show em São Paulo. Corri pra comprar meu ingresso pela internet e garantir um bom lugar. Curioso ver que hoje um simples "click" resolve tanto. Eu me lembro das filas em bilheterias que consumiam algumas tardes de minha vida. E como era divertido. Hoje, o tempo que se ganha na compra é meio ilusório, dado o trânsito caótico. Enfim. Resolvi que sairia bem mais cedo de casa, e isso não seria um problema.
Na semana do evento fiquei bem ansiosa. Resgatei CDs que há tempos não escutava, e relembrei os antigos sucessos. Uma trilha sonora pertinente ao meu estado de espírito, alegre e leve. No grande dia, aquela euforia. Uma passadinha na lojinha armada pra fisgar os fãs mais vulneráveis que, como eu, compraram camisetas e acessórios. Fui cantarolando até o lugar, que realmente era bom. Bem centralizado, para eu sentir o som equilibrado. "Começa! Começa!", gritei pra engrossar o coro. E então as luzes se apagaram. Uma pista foi aberta pra quem quisesse dançar e pra lá eu fui. Bem pertinho deles, no gargalo, cantando e dançando, suando e gritando. Com as crianças a tira-colo. Sim, Olivia e Leonardo foram comigo. Vivenciaram essa magia de conferir um show de música numa grande casa de espetáculos. Não, não fomos ver nenhum astro do pop, dinossauro do rock ou lenda do jazz. Fomos curtir os ídolos que qualquer mãe adota como seus, desde que se jogue de corpo e alma no universo de seus filhos. Sandra Peres e Paulo Tatit, do Palavra Cantada, são os responsáveis por esta tarde memorável.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

De volta



Não. Não voltei de férias hoje. Já faz um tempinho que a rotina voltou ao normal. A rotina da casa, da escola, das tarefinhas. Tanto pra organizar que não consegui fôlego pra abrir o berreiro. A justificativa é justa. Estou sem babá a partir de 2010. Consegui a alforria mas, como tudo na vida, isso tem um preço. Muito pouco tempo me sobra para fazer uma coisa que amo, desabafar aqui pra vocês. Portanto, pelo bem das crianças, por enquanto teremos que nos acostumar a uma frequência menor de postagens. Eu disse por enquanto. Temos um longo ano pela frente! E brindarei minha volta com um poeminha recém saído do forno. Sobre uma flor incrível que vimos brotar aqui em casa (olhem as fotos!), assim que chegamos de viagem. A flor do cacto.

Congelei em píxels

O clímax de um cacto

Súbitas pétalas,

Que belo espetáculo!


Um sorriso que aplaca

A aridez do tato

E poliniza a alma

Na breve madrugada


Amanhecem cansadas

As brácteas valentes

E recolhem-se, como de praxe

Até a próxima jornada


Mas permanecem eternas

Na cicatriz do caule

Na solidão do vaso

No som da palavra