quarta-feira, 27 de abril de 2011

Lanternas e histórias...


Quarto das crianças sem luz. Algumas semanas assim, por preguiça de subir numa escada e rosquear uma nova lâmpada, fiquei acostumada com a nova configuração. Dias no escuro, sem que nossa rotina fosse alterada, sem que tivéssemos qualquer dificuldade em transitar entre as pequeninas camas ao anoitecer. Na necessidade de escolher alguma peça do guarda roupa, uma lanterna resolvia o problema. Nos momentos de "medinho" da escuridão, uma grande oportunidade surgia para descobrir maneiras de vencê-lo. Nas dificuldades, percebia uma nova chance de encontrar diferentes caminhos para se interagir com o espaço, mesmo que todo o resto da casa estivesse iluminado. E, na hora de contar a história antes de dormir, um ritual nasceu...

Os dois deitadinhos se preparam para o momento. Pupilas dilatadas, olhinhos brilhando, silêncio absoluto. Com o livro numa mão e uma lanterna na outra, começo a desvendar o enredo da noite. E enquanto leio as páginas, vou iluminando somente o que interessa, seja um detalhe da ilustração, os personagens num momento de diálogo, ou até mesmo o meu rosto expressando alguma emoção. Aproximo e afasto o feixe de luz, faço movimentos com a lanterna, deixo a escuridão reinar ao virar uma página. É mágico. As crianças adoram ouvir, não se distraem, e vão relaxando pra hora do "boa noite".

Mesmo depois de instalada a nova lâmpada, não conseguimos abandonar este ritual. É só escolher o livro da noite, que eu logo vejo uma mãozinha apertar o interruptor. Talvez não seja grande novidade pra muita gente, mas eu considero uma das grandes surpresas vividas neste ano. E, se é bom, por que não contar? Apague as luzes pra começar!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Quem comanda quem?


Depois da centésima ordem do dia, Olivia solta essa:
"Mãe, por que é sempre você que está no comando? Isso não é justo!".

E assim vejo o despertar de mais uma inconformada no mundo...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A morte da libélula


Chegamos em casa e avistamos uma pequena libélula enfeitando a parede ao lado da porta do quarto das crianças. Com suas asas transparentes, parecia ouvir os gritos eufóricos de boas vindas dos pequenos, pois subitamente começou a voar acima de nossas cabeças. Virou amiga da família, nossa nova hóspede, e passou a se chamar Rebeca. A todo momento, no entra e sai de nossa rotina, Olivia e Leo saudavam Rebeca com um "oi" feliz. Até eu entrei nessa brincadeira, e desconfiei que ela pudesse estar realmente feliz com a gente por perto. E, na dúvida, engrossei o coro de "boa noite, Rebeca, até amanhã", logo antes de dormir.
Os passarinhos acordaram as crianças no dia seguinte, que me acordaram aos gritos, com a Rebeca nas mãos. "Mãe, ela estava no chão, o que será que aconteceu?", perguntava Olivia. "Ela tá dodói", repetia o Leo. Sem se mexer, a libélula estava claramente morta. Eu, quieta, numa mistura de sono, receio e curiosidade, aguardei as reações dos dois, que mobilizaram a casa toda naquela manhã. Aconchegaram Rebeca num potinho, juntamente com umas folhas pra ela comer e uns pingos de água pra beber. Incorporaram dois médicos a tratar de uma paciente no hospital, na tentativa de salvá-la. E, ao constatarem a morte da pequena amiga, mudaram o rumo de meu dia.
Sentada no sofá, com Rebeca nas mãos, Olivia explodiu num choro. Choro sentido, com litros de lágrimas caindo, lamentando a perda (Leo, por ser mais novo, elaborou de uma maneira diferente e, no minuto seguinte, brincava com seus carrinhos pelo chão). Ela havia percebido a irreversibilidade da morte. Dizia, soluçando, que não queria que ninguém no mundo morresse. Tentei acalmá-la, dizendo que isso faz parte da vida de todos nós, mas fui tomada por uma angústia dilacerante. E então percebi o meu despreparo em lidar com a questão da morte.
Creio não estar sozinha, afinal, o modelo de nossa sociedade não abre espaço para pensarmos na possibilidade do fim da existência. Mesmo sendo este fim a única grande certeza da vida. Obter o prazer é o que mais nos motiva, e isso parece não dialogar com a obscuridade da morte. Mas, se isso suscita questionamentos infantis, deles não temos como desviar. Buscar o que nos conforta, dizer a verdade sem eufemismos e adequar o nosso discurso de acordo com os níveis de compreensão sobre a morte para cada faixa etária já é um bom começo. Pois talvez as grandes perguntas serão somente respondidas quando vivenciarmos nosso próprio fim. Enquanto isso, vamos vivendo para aprender! E viva a Rebeca!

segunda-feira, 4 de abril de 2011