domingo, 21 de março de 2010

Um simples sábado


Lá se vai mais uma garrafa de vinho. Nossos sorrisos pigmentados e largos, brindam a noite de sábado de um jeito simples e feliz. As crianças brincando de pega pega explodem em gargalhadas. O papai ensaiando notas minimalistas e certeiras no piano faz a paz transbordar. E eu, esparramada no sofá, contemplando e agradecendo, deixo os segundos exercerem seu papel com muita calma.
Olho pro vaso de vidro, recheado de rolhas. Lá dentro amontoam-se lembranças boas. O dia do casamento, os exames de gravidez positivos, as conquistas profissionais, as datas importantes, os amigos em casa. Os amigos...quantos já passaram por aqui! Alguns desde sempre e pra sempre. Marcaram a alma de um jeito que, não importam os caminhos, irão comigo aonde eu for. Outros vieram, mas já saíram. Preencheram momentos, marcaram presença, mas compuseram uma fase, somente. Os que acabaram de chegar, que começam a escrever comigo mais um livro (com tantas páginas ainda em branco), renovam e impulsionam. E então me dou conta de como é perfeito o conceito da amizade.
Quero ser amiga de meus filhos. Quero que eles tenham amigos fiéis. Quero sempre cultivar a amizade com meu marido. Quero amigos pra vida toda. Na família, na escola, na padaria, no restaurante. Quero que a vida me mostre sempre as oportunidades de uma nova amizade. Porque a gente não consegue melhorar sozinho. Dou meu último gole no vinho. Um brinde aos amigos!



quinta-feira, 18 de março de 2010

Prioridades


Talvez eu soe repetitiva, mas a loucura anda realmente grande. Estou absolutamente feliz com minha nova vida sem babá, sinto as crianças muito melhores, mas o tempo que me sobra é "muito pouco". Além disso, aquele meu projeto de música infantil precisa ser concluído o quanto antes, meu coração pede assim. Portanto, infeliz e temporariamente, o blog ficará um pouco abandonadinho. Nas minhas espaçadas visitas por aqui deixarei todos a par das novidades, que por enquanto resumem-se à pré-produção do disco. Estou fechando o repertório, algumas composições mais antigas perderam a importância e deram lugar a outras fresquinhas, coisa que exige muito trabalho. E concentração também, fazendo minha cabeça pensar somente em música. Repito: por enquanto! E pra não deixar um vazio novamente, num post criado somente para me justificar, deixo abaixo um poema que resgatei recentemente da "biblioteca", quando resolvi reler um livro de Drummond com outros olhos, quase quinze anos depois. E quanta surpresa! Fui tocada por um poema sobre filhos...inimagináveis em minha vida de adolescente, quando adquiri o "Farewell", último livro dele. Olhem só:

Diante de uma criança

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual

vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidads sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Submeter-me à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E se depois de tanto mimo
que o atraia, ele sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Meu silêncio!


Gosto deste silêncio da noite
que faz a casa ficar grande
e que ecoa os meus sonhos mais distantes.

Um silêncio perfeito,
tão preciso quanto a fluidez de meu sangue,
que percorre os cômodos, as frestas, as estantes.

É um silêncio meio solitário
que me acalma,
que me liberta das armadilhas da alma
e me faz descansar,
mesmo que os olhos se abram.

Gosto da ausência do som,
da privação da fala,
da contenção de ruído.
Pois ao longo do dia já excedi os limites
da voz e do ouvido.

Gosto deste silêncio aconchegante
que me dá a certeza de que tudo corre bem.
As crianças dormem,
Amém.