quarta-feira, 29 de julho de 2009

Abracadabra


A maleta dura e preta, um pouco desgastada pelo tempo, está lá, aberta, e expõe algumas de minhas lembranças infantis. Imediatamente volto no tempo. Os sons das gargalhadas adultas, que tanto me intrigavam, ressoam nostalgicamente em minha cabeça. Parece ter acontecido ontem, naquelas animadas tardes chuvosas, regadas a pipoca e refrigerante, que o papai mágico, truque após truque, hipnotizava a criançada boquiaberta. A bola que voava, a moeda que caía da orelha, o arco-íris de crepon que saía da boca. Magia pura e inocente, que guardei pra sempre. E que, de repente, ressurgiu assim, numa tarde também chuvosa, pra espantar o tédio de nossas férias cinzentas. 
A cada objeto tirado da maleta-cartola, meus filhos param, parecem não acreditar. Os mesmos truques de tantos anos atrás me fazem gargalhar sem fim, de tão simples e banais, e a gargalhada adulta agora vem de mim. E o mágico, um pouco enferrujado de sua atividade extra curricular, deixando escapar um detalhe aqui e outro ali, faz um gesto desengonçado e os truques ficam mais escancarados, cômicos. Não pras crianças, que fique claro. Pra eles o vovô é um mágico, e não um palhaço. E está repetindo a magia de imprimir na gente uma deliciosa lembrança, certamente eterna.
Mas chegará o tempo em que a empáfia adolescente fará a mesma maleta preta (quem conhece o mágico sabe o quanto ele conserva suas coisas) se esconder em um armário qualquer. Ela provavelmente descansará por longos e vários invernos, quietinha, aguardando, quem sabe, uma futura tarde chuvosa pra ser aberta novamente. Alguns anos depois, revelará novos segredos, emocionará alguns corações e, principalmente, encantará novas crianças, as da quarta geração. E se isso realmente acontecer, se não for um truque de meu desejo, garanto, será um momento exepcionalmente mágico!

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