quarta-feira, 30 de março de 2011

Cenas que se repetem por aí...


Sábado fui almoçar com o marido, sem as crianças e com tempo de sobra para contemplar o mundo. O verde paradisíaco do restaurante, imperando nas enormes e centenárias árvores, era um natural convite para se deixar o tempo correr. Espalhados pelo jardim, alguns bancos vazios aguardavam a visita daqueles que pudessem ser boa companhia, com direito a agrados da brisa leve e fresquinha naquele dia ensolarado. O azul vibrante da piscina, com todo o seu movimento, acolhia e espelhava quem o rodeasse. E a paz estava lá para quem quisesse perceber.
Sentindo a falta dos pequenos naquele momento, passei a me distrair observando as crianças que aos poucos preenchiam os espaços com suas risadas gostosas e choros inevitáveis. E então fui atraída para uma específica cena. Um belo casal com sua única filha, tentando em vão provocar um sorriso naquele inocente rostinho. Ela parecia entediada, tinha rejeitado a comida (eu disse que estávamos num bistrô maravilhoso?), e não se mostrava disposta a mudar aquelas feições de desagrado. A não ser que a mágica do "suborno" se mostrasse eficaz...
Subitamente ela comeu, comeu, ansiosamente comeu. Não deixou um raminho de alecrim pra contar história (não, não fui xereta a este ponto...o alecrim foi uma estratégia para florear o texto...não vi o que tinha sido servido naquela mesa, rsrs). E saiu correndo com um estojinho na mão. Os pais respiraram aliviados. Começaram a saborear seus pratos com muita tranquilidade, mediante um festivo brinde com vinho branco.
Deitada num dos bancos do jardim, a menina finalmente fazia algo de que gostava. Habilidosa e concentrada, manipulava os botões daquele estojo que não era estojo, mas sim um exemplar da nova geração de games portáteis. O tempo correu, meu prato chegou, pedi a sobremesa e a conta. E ela lá. Sem perceber a brisa que balançava seus cabelos. Sem perceber o esquilo que, logo atrás de seu banco, escalava um pinheiro. Sem observar as minúsculas flores que caíam das árvores em espirais, forrando a piscina de um amarelinho singelo. Nada. Ela não percebia nada. Fomos embora. Fiquei com aquela cena gravada, com certa angústia. E me imaginei no lugar daquela criança. Seria possível existir algo mais atraente do que um videogame pra passar o tempo?
Claro que sim! Uma extensa lista de brinquedos e atividades naturalmente se formou. E, ocupando o primeiríssimo lugar, depois de admirar a exuberância daquele jardim, pensei numa lupa bem bacana para aqueles que, como a menina, não se interessam por pratos sofisticados, conversas de adultos ou ócio improdutivo. Ela gastaria seu tempo procurando por joaninhas, gafanhotos, formigas e centopéias. Vibraria com as descobertas e, orgulhosa, solicitaria a parceria de seus pais para dividir o precioso momento. Bem mais bonito, né? Da próxima vez em que voltar neste restaurante, de preferência na companhia de meus filhos, levarei lupas e afins para garantir a nossa paz. Afinal, as boas oportunidades que se abrem para as crianças dependem prioritariamente dos esforços dos pais.




7 comentários:

erika verginelli disse...

Ameeeeeiiii a foto do perfil by euzinha :)

Dani Monaco disse...

Hehehe...tudo, tudo, tudo a ver com tudo por aqui! Amo essa foto...

Mania da Caru disse...

Muuuuito bom prima!! Vc deve escrever sempre!!!
Bjão

Unknown disse...

Barbaro,criança tem que ser criança sempre ,não mine adulto.ADOREIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIBJUUSSSSSSS

Sarah Abreu disse...

Adoro seus textos!!!

Patricia d'Utra disse...

LIndo texto, mas verdadeiramente triste. Somos responsáveis pelo que proporcionará as escolhas de nossos filhos. As opções são perigosas, pois uma vez apresentadas, nunca mais se ocultarão.Acabam tomando espaço do que realmente importa e faz crescer.

Clara Hasson disse...

lindo texto Dani! ....És responsável pelo que cativas... Dani,vc esta aberta para captar as sutilezas do viver...Se começarmos a olhar desde cedo por esta lupa, iremos conseguir garantir que a vida passe divinamente! Bjs