sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Fluxo cotidiano


A cachorra está latindo, que bom que a Benedita já chegou, "bom dia, crianças", "manhê, quero leite", "manhê, quero fazer xixi", tenho pouco tempo pro café, a geladeira está vazia, tô sem ideia pro lanche da escola, "precisa trazer a 'mistura' também", mas que trânsito, não acho meu celular tocando na bolsa, preciso checar meus e-mails e mandar umas calças pra arrumar, "débito ou crédito, senhora?", esqueci minha sacola retornável, não sei por que esse povo gosta tanto de buzinar, o freio do carro está estranho, "ainda não pôs o maiô da natação, filha?", não vai dar tempo de tomar meu banho agora, "você viu que eu consegui fazer a borboleta, mãe?", "corre pro carro senão chegaremos atrasados na escola", parece que o tempo vai mudar, esqueci de entregar o comprovante de residência pro Otavio, "lavem as mãos antes de comer", não sei se ligo de volta pra minha amiga ou tomo um banho, queria ter mais tempo pra ficar lá fora ouvindo os passarinhos, preciso carregar o celular, não consigo nunca terminar os livros que começo.
Depois de deixar as crianças na escola eu vejo se termino a música ou vou pra aula de capoeira, esqueci o CD na mesa da sala, "parem com essas provocações", qualquer hora eu pego um motoqueiro, "manhê, olha essa careta", "não posso, estou dirigindo", que bom que a estrada está fluindo, faz tempo que não vou ao dentista, eu me sinto péssima na TPM, olha aquela vaga excelente, não tinha percebido que o Leo dormiu, parece que esqueci alguma coisa, adoro andar a pé de mãos dadas com os dois, "boa aula, filha", "divirta-se, filho", algumas horas sozinha pela frente, "preciso de um favor, Dani", lá vem, vivo pros outros, nunca mais escrevi no blog, minhas unhas estão indecentes, quero muito fazer um curso de fotografia, tenho que comprar ração, tem uma gripe querendo me pegar, que dia é hoje?
Quero tomar um chazinho e um banho quente, a aula foi puxada, mais um dia sem mexer no meu disco, tudo não dá, preciso urgente de uma dermatologista, acabou a pasta de dente, não sei que roupa vestir, o tempo voa, já tenho que sair, esqueci de pagar os impostos, malditos impostos que vão pro bolso de alguém, que dor nas pernas, essa hora me dá uma fome-monstro, "alô, Daniela, é o Joel, da Kombi que você bateu", caramba, esqueci de fazer o depósito dele, as vinhetas dessa rádio me deixam ansiosa, a gasolina está no fim, não vai dar tempo de calibrar os pneus, aquela vaga está boa, ô gente estressada no trânsito, daqui a pouco o sinal toca, "Manhê, você não trouxe ainda as figurinhas pra escola?", "não tive tempo, filha", "você nunca tem tempo, mãe...você precisa tentar melhorar, viu?", deu branco no meu pensamento.