Sábado fui almoçar com o marido, sem as crianças e com tempo de sobra para contemplar o mundo. O verde paradisíaco do restaurante, imperando nas enormes e centenárias árvores, era um natural convite para se deixar o tempo correr. Espalhados pelo jardim, alguns bancos vazios aguardavam a visita daqueles que pudessem ser boa companhia, com direito a agrados da brisa leve e fresquinha naquele dia ensolarado. O azul vibrante da piscina, com todo o seu movimento, acolhia e espelhava quem o rodeasse. E a paz estava lá para quem quisesse perceber.
Sentindo a falta dos pequenos naquele momento, passei a me distrair observando as crianças que aos poucos preenchiam os espaços com suas risadas gostosas e choros inevitáveis. E então fui atraída para uma específica cena. Um belo casal com sua única filha, tentando em vão provocar um sorriso naquele inocente rostinho. Ela parecia entediada, tinha rejeitado a comida (eu disse que estávamos num bistrô maravilhoso?), e não se mostrava disposta a mudar aquelas feições de desagrado. A não ser que a mágica do "suborno" se mostrasse eficaz...
Subitamente ela comeu, comeu, ansiosamente comeu. Não deixou um raminho de alecrim pra contar história (não, não fui xereta a este ponto...o alecrim foi uma estratégia para florear o texto...não vi o que tinha sido servido naquela mesa, rsrs). E saiu correndo com um estojinho na mão. Os pais respiraram aliviados. Começaram a saborear seus pratos com muita tranquilidade, mediante um festivo brinde com vinho branco.
Deitada num dos bancos do jardim, a menina finalmente fazia algo de que gostava. Habilidosa e concentrada, manipulava os botões daquele estojo que não era estojo, mas sim um exemplar da nova geração de games portáteis. O tempo correu, meu prato chegou, pedi a sobremesa e a conta. E ela lá. Sem perceber a brisa que balançava seus cabelos. Sem perceber o esquilo que, logo atrás de seu banco, escalava um pinheiro. Sem observar as minúsculas flores que caíam das árvores em espirais, forrando a piscina de um amarelinho singelo. Nada. Ela não percebia nada. Fomos embora. Fiquei com aquela cena gravada, com certa angústia. E me imaginei no lugar daquela criança. Seria possível existir algo mais atraente do que um videogame pra passar o tempo?
Claro que sim! Uma extensa lista de brinquedos e atividades naturalmente se formou. E, ocupando o primeiríssimo lugar, depois de admirar a exuberância daquele jardim, pensei numa lupa bem bacana para aqueles que, como a menina, não se interessam por pratos sofisticados, conversas de adultos ou ócio improdutivo. Ela gastaria seu tempo procurando por joaninhas, gafanhotos, formigas e centopéias. Vibraria com as descobertas e, orgulhosa, solicitaria a parceria de seus pais para dividir o precioso momento. Bem mais bonito, né? Da próxima vez em que voltar neste restaurante, de preferência na companhia de meus filhos, levarei lupas e afins para garantir a nossa paz. Afinal, as boas oportunidades que se abrem para as crianças dependem prioritariamente dos esforços dos pais.