O sol timidamente vai abrindo seu sorriso matinal sobre o gramado úmido. O canto dos pássaros anuncia mais uma festa que logo vai acontecer. O vento dá seu ar da graça, balançando nossos cabelos, enquanto caminhamos em pacientes passos, contemplando o que vemos ao redor. O pavão, aquele bicho exibidão, que ainda não quer saber de conversa. Os cachorros que estão lá no portão, esperando por algum afago. A ovelha, tosadinha, querendo descascar o tronco da árvore, enquanto as galinhas ciscam, agitadas como sempre. Tem muito mais bicho por aí, mas não dá tempo de visitar todo mundo. É hora de entrar na sala, lá longe a professora já nos viu. Olivia sai correndo, já sabe abrir o portão, logo guarda sua mochila e senta com suas amiguinhas para curtir os primeiros momentos do dia. O Leo, ainda em meu colo, choraminga. Sabe que a partir de agora é aqui que passará todas as manhãs, durante bons anos. E entra na sala com alguma resistência, que logo logo será motivo de risos na família. Eu vou pra varanda, onde uma grande mesa rústica me espera, aguardando um possível momento de acalmar meu filhote, em adaptação. Com os portões fechados, nenhuma mãe ou pai transita mais pelo espaço. Agora é a vez da criançada. E eu me sinto em casa. Tomo um cafezinho, folheio uma revista. De repente passa por mim um trenzinho diferente. Crianças que andam a passos sincronizados, cada um segurando a blusa do amiguinho da frente. Lindos. Uns tagarelam, outros brincam, outros ainda não acordaram. Devem estar indo pra alguma aula fora da sala. Fico encantada, com vontade de espiar um por um. Ouço uma gritaria lá de longe, e vejo outros brincando no parque. São os mais velhos da turma, numa dinâmica engraçada. Entrosados, um brinca de provocar o outro, e todos seguem felizes. Rolam no chão, imitam bichos, correm sem parar. Uma funcionária vem em minha direção, dizendo que está tudo bem com o pequeno. Dessa vez, a segunda vez em que sou mãe, tudo é mais fácil. Não tenho aquela ansiedade de saber se meu filho está sendo bem tratado. Já conheço o lugar, já confio nas pessoas. A adaptação é uma questão de tempo. Engatamos então num papo, com direito a mais um cafezinho, e me esqueço que estou numa escola...até ver minha maior passar por mim com sua turminha. Eles me reconhecem, avisam a Olivia (ela olhava pro outro lado), que sorri com ternura, de longe. Não desejo seguí-la, ela não precisa vir até mim. Está lá, segura, num ambiente acolhedor e tão conhecido, crescendo sozinha. Fico emocionada, plena. Eis que um alvoroço se incia, vejo funcionárias correndo de lá pra cá, com potes nas mãos. É a hora do lanche. Único momento em que o parquinho, com todas as formas e cores, fica quieto e vazio. Mas não por muito tempo. A turminha mais nova aparece por lá, disputando baldinhos e pás no enorme tanque de areia. Finalmente vejo meu pequeno, sem saber pra onde olhar, tateando tudo em sua volta, mas com sede de brincar. Mexe o tempo todo na areia, deslumbrado. Está na sua praia, começando a construir seu castelo. E eu aqui, podendo observar tudo isso, com o coração transbordando de alegria, percebo que a adaptação na escola é uma oportunidade preciosa de ver nossos filhos ensaiarem os primeiros passos da vida. Pena que isso acontece uma única vez!
Obs.: foto da revoada de pássaros, espetáculo observado diariamente no céu, sobre a escola.